É sempre muito difícil se analisar um cenário teórico fazendo parte dele, sem um distanciamento mínimo de tempo e espaço. Mas podemos apontar algumas tendências contemporâneas da literatura brasileira e consideramos o que se tem produzido nos últimos vinte ou trinta anos, pós-ditadura.
Poesia
Na poesia, os nomes hoje já consagrados são aqueles que, de algum modo, dialogam com essas linhas de força da Semana de 22, um diálogo com a função paradoxal de unificar a variedade da produção contemporânea. O impacto do modernismo de 22, porém, foi tamanho que conseguiu produzir também uma diversidade interna, bifurcando a linhagem modernista em:
- uma vertente mais lírica, subjetiva, à Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Drummond;
- outra mais experimental, formalista, à Oswald de Andrade, João Cabral, poesia concreta.
A poesia torna-se, ainda, por um lado mais cotidiana quanto a temática (Adélia Prado, Mário Quintana), e por outro instrumento de pressão contra as ditaduras (Glauco Mattoso, tropicalistas).
Prosa
Contemporaneamente o que vemos no romance brasileiro e, de certa forma, também no luso, que volta a dialogar com o Brasil, é o surgimento do que chama-se Geração 90. No Brasil, o grande marco é o romance Subúrbio, de Fernando Bonassi, que deflagaria em 1994 um processo de renovação da prosa urbana (ou, no caso, suburbana), com seu realismo brutal, que trouxe novamente para o centro da cena literária os personagens dos arrabaldes das cidades brasileiras. Cidade de Deus, de Paulo Lins, ficaria célebre pela sua realização cinematográfica.
Outra corrente contemporânea é uma espécie de tópica da condição pós-moderna: a identidade em crise, um extremo do intimismo, que se projeta sobre a estrutura narrativa, cancelando os limites entre o real e o fantasmático, entre o mundo descrito e as distorções interiores de quem o descreve. É o caso de Cristóvão Tezza, João Gilberto Noll, Bernardo Carvalho e Chico Buarque.
Acrescentaria a tais correntes uma espécie de revisão histórica a partir da ficção. Tanto no Brasil (Luiz Antonio de Assis Brasil, Miguel Sanches Neto) quanto em Portugal (Miguel Sousa Tavares) e nos países africanos de língua portuguesa (José Eduardo Agualusa, Mia Couto) aparecem narrativas de formato convencional e que se passam inteiramente no passado, mas não resgatando o passado como forma de contemplação. Atualmente vivemos um momentos barroco, de confusão e crise existencial, um tipo de literatura que está em alta .
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